A série Bricolagens de uma “Página em Branco” foi desenvolvida em residência artistica de Lizi Menezes no Atelier Roundabout.Lx (em Lisboa) e teve a primeira ação, “A Brasileira” em 2015.
Esta série, tem como intenção trabalhar as diversas formas da expressão artística dialogando textos e obras de autores feministas. Com a participação de outros artistas e convidados, Lizi Menezes, agrega os trabalhos desenvolvidos em ato performático, de maneira a contar-nos uma história. “Panquecas Civilizadas” busca questionar a não reactividade que é incutida nos corpos frente as situações que os violam. A retirada dos corpos da sua zona de conforto, através da exaustão pela repetição de signos, torna-os vulcão.
“O vídeo é uma animação feita de colagens de imagens estáticas e nunca em movimento, através da qual vemos figuras religiosas misturadas com modelos corpóreos típicos de uma sociedade heterocentrada, em que a masculinidade é caracterizada pela figura viril de um homem forte e cheio de coragem em suas luvas de boxe vermelhas, enquanto à mulher é atribuída uma condição frágil como uma boneca de louça, ainda sem cabelos, sem indumento, branca como o gesso, estando pronta para atender ao desejo do outro, seja para consumação, seja para nela inserir a composição desejada. O vídeo projetado expõe repetições em série de todos esses corpos, diluídos em elementos naturais como flores, misturados aos vários pedaços de carne, ao imaculado coração de Maria, que é repetido de forma insana etc.
Ao som constante de um batimento cardíaco, por debaixo da confusão de imagens projetadas sobre a cozinha branca, há três performers: a própria artista (que prepara panquecas todo o tempo), um homem a segurar um grande espelho (que reflete a imagem da projeção de vídeo sobre a audiência e, ao mesmo tempo, expõe a própria imagem da plateia sobre a sua superfície) e uma mulher toda pintada de cor branca a servir panquecas, sendo esse o corpo que mais absorve o conteúdo da projeção. Os códigos dos vestuários marcados pelo processo civilizacional são renegados, mas toda nudez ali presente é exposta completamente vestida de cultura, em que a vernaculidade humana está longe de ser exibida. Assim, de forma sagaz, a artista expõe os performers nus, mas não despidos dos padrões culturais; suas exterioridades são projeções de interioridades já contaminadas.”
PELISON, Julia. “Consumo Obsessivo ou Regurgitação Necessária dos Arquétipos já Petrificados”. eRevista Performatus, Inhumas, ano 4, n. 15, jan. 2016. ISSN: 2316-8102.